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quarta-feira, 25 de junho de 2014

Ongaronga

Por Marcela de Holanda


Acordou já tarde, mas ainda não queria levantar. Acabou cochilando e foi aí que tudo começou. Foi tão rápido que não conseguiu apreender o contexto. Tinha um homem não identificado em seu sonho e ele dizia a seguinte frase: “Só se a gente fizer ongaronga”. Acordou na mesma hora rindo de si mesma e das suas invencionices durante o sono.

Por curiosidade, pegou o celular na cabeceira e pesquisou no Google a tal palavra. Não havia resultado para ongaronga, mas havia vários resultados para On Garonga. O Garonga Safari Camp, na África do Sul, era descrito como um safari para a alma. Ficou com aquilo na cabeça e voltou a pesquisar mais tarde. As fotos do lugar eram incríveis. As acomodações tinham um clima rústico romântico de frente para uma vista selvagem.

Sentiu-se tentada a arrumar as malas e ir. Só tinha um pequeno detalhe. Ela tinha medo dos animais. Não só dos grandes, mas dos pequenos também. Era do tipo que se irritava com mosquito. Ia fazer o que on Garonga? Mas também era do tipo que acreditava em sonhos e em sinais.

Ficou ruminando a ideia por alguns dias até que resolveu mostrar para o marido. O pior aconteceu. Ele amou a ideia. Ficou animado com a perspectiva como ela nunca tinha visto antes. O casamento deles não andava muito bem. Ela já tinha tentado, de muitas maneiras, melhorar a situação e já começava a achar que não tinha salvação.

Não teve coragem de dizer para ele que na verdade achava que não teria coragem de ir. Disse que daria um jeito de antecipar suas férias e que ele fizesse o mesmo. Os dois partiriam assim que possível. Ele topou. Ela começou a ter crises de ansiedade e de arrependimento todos os dias, mas seguiu em frente com seus planos.

A relação já mostrava bons sinais de melhora quando os dois embarcaram no avião para a África. Se esse era o preço a pagar, ela encararia um leão por dia. Ou, no caso, vários leões, elefantes, hipopótamos, rinocerontes, girafas...


Foi, mas não voltou. Deixou para trás a pessoa que era para renascer muito melhor. E ele também. Tudo o que viveram on Garonga tornou os dois cúmplices inseparáveis. Voaram para casa, prontos para encarar tudo que viesse e esperando o filho que fizeram on Garonga.


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