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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Autoestima

Por Bernardo Sardinha

Após desligar o despertador, esperou mais um pouco para ver se todos estavam realmente dormindo. Eram quatro da manhã e não queria ser surpreendido pela mãe voltando do banheiro, ou pelo pai assistindo uma luta altas horas da noite. A casa estava toda apagada e antes de sair do quarto de fininho, olhou sorrateiramente o corredor antes de dar a sua escapulida na cozinha.

Com seus mal distribuídos 160 quilos, se esgueirou pela cozinha para cometer excessos calculados. Se comesse um pacote de Negresco todos perceberiam que ele tinha fugido da dieta rigorosa que o médico havia lhe passado. Mas, se comesse apenas UM negrescozinho, molhado no leite condensado, ninguém iria perceber. Um briochezinho com um pouquinho de patê de presunto e cheddar também poderia passar despercebido por todos, como um crime bobo e comum. Calda de chocolate é muito bom no sorvete, mas em uma fatia de pão de forma é o melhor substituto para um bolo de chocolate. Uma dieta de duas mil calorias não era para ele.

Quando estava procurando alguma coisa para passar um colherzinha de doce de leite, ouviu uma voz e de antemão sentiu a vergonha de ter sido pego. Esperou, sem respirar as luzes se acenderem até que percebeu que as vozes vinham do quarto de empregada.

O faxineiro e a empregada namoravam nus e os gemidos daquela boa moça evangélica eram altos o bastante para serem escutados naquela cozinha de dispensa farta.

Agarrado em seu novo mini aperitivo: uma colher de doce de leite com sucrilhos, assistiu os dois amantes com seus corpos magros de fome se enroscarem até quase darem um nó.

Percebeu ali, no escuro, que se quisesse ficar pelado com sua empregada alguma vez na sua vida, algo tinha que mudar imediatamente. Na próxima segunda-feira, começaria a dieta mais rigorosa já feita (ou não).

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