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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O incrível fim de um dia

Por Bernardo Sardinha

                       

                   Nossa incrível história começa na pacata cidade de Guapimirim, onde Leonardo foi passar um feriadão com seus amigos. Seriam três dias de muita cerveja, churrasco, conversas para o ar e drogas leves.  À noite o jovem Leonardo se afastou de seus amigos para dar uma esvaziada na bexiga, afinal, estavam tentando quebrar algum recorde, não importa qual, só importa é que este recorde envolvia litros e litros de cerveja. Sabe como é. Coisa de gente chapada e idiota (a ordem dos fatores não altera o resultado). 
      
                  No momento da mijada orgástica, um meteoro caiu ao lado de Leonardo. Na hora Leo só pôde gritar “Puta que pariu!” e foi arremessado muitos metros para trás ainda com o pau na mão. “Puta que pariu puta que pariu puta que pariu....” ficou falando enquanto guardava às pressas seu bilau dentro da calça. Ao se aproximar do local do impacto, viu que, do meteoro não restara nada, mas havia algo de estranho no ar. Uma certa eletricidade percorria o ambiente. Como todo bom bêbado que está chapado e com sono, Leo ignorou tudo aquilo e foi dormir.
                 No dia seguinte Leo (de ressaca) arrumou suas malas e partiu para o Rio de Janeiro, para uma semana chata e terrível de trabalho burocrático e infeliz. Usando seu uniforme[1], sentou em sua mesa, a qual estava completamente organizada. Aos poucos foram chegando seus colegas de trabalho todos muito cordiais dando "Bom dias" e "ois" e sentando em suas respectivas baias, começaram o trabalho daquela semana.Visitados todos os sites legais e com todos os emails interessantes lidos, só restava para Leonardo fazer seu trabalho, por mais burocrático e lento que fosse. Ele esfregou os olhos, estalou os dedos e colocou as mãos sobre o teclado.
                     Ele estava triste mas não sabia dizer por quê. De repente, aquela sensação de que o ar estava carregado de eletricidade voltou. Leonardo sentiu ela percorrer seu corpo e arrepiar os pêlos da nuca. Aquilo tomou conta dele, era uma força incontrolável. Era uma mistura de vontade de gritar, de rir e de enlouquecer de vez. Mas para o bem da nação ele se controlou.
                    Silêncio. Seus colegas de trabalho estavam a batucar o trabalho em seus teclados de plástico, voltados com sua total concentração para a tela do computador. Olhou para o relógio e ainda faltavam sete horas e quarenta e cinco minutos para terminar o expediente. Olhou para a janela e seus olhos se apertaram por causa da claridade. Viu um pássaro voar e sorriu[2].
                     Antes de digitar o primeiro número naquela planilha de Excel, apareceu Cintia:
                    - "Oi Lêo! Trouxe algo para você!" - e com um sorriso mais falso do que uma nota de três reais ela colocou um souvenir na mesa de Leonardo. Era um tucano talhado toscamente na madeira com uma bandeirinha de :"Bem-Vindo ao Pantanal".
                   - "Obrigado!" - disse Leonardo para em seguida pegar o bichinho e jogar no lixo na frente dela. Cintia ficou boquiaberta e Leonardo começou a rir de nervoso. Havia eletricidade no ar.
                   Dali em diante a tarde foi muito mais divertida. Começou com um barraco, com Cintia chamando Leonardo de grosso e logo outras pessoas se meteram, surgiram opiniões e muita gente disse coisas que estavam entaladas na garganta. Tiraram todos os esqueletos do armário, reviraram o passado e lavaram a roupa suja. Leonardo sabia que o que tinha feito era errado. Mas foi simplesmente divertido ver o circo pegar fogo. No final do expediente desceu de elevador com um colega:
                   - Que dia! Hoje vou ter muito assunto para contar na janta! - disse o colega rindo.
                    Leonardo sorriu.
                  Era noite, e Leonardo ainda estava voltando do trabalho, e decidiu dar uma volta na praia de Ipanema que estava deserta. Parou em frente ao mar e tirou os sapatos.
                  - Caramba...o mar.
                  Nesse instante, Deus sai de trás de uma nuvem e olha Leonardo.
                   - Olá – disse Leonardo.
                   - E aí... - respondeu entre as nuvens.
                  - Pô, to gostando desse troço cara! Tô me sentindo livre como ninguém. E não tô falando dessa liberdade que vendem por aí...
                 - Ah sei... Liberdade de escolher a sua operadora de celular, liberdade de escolher que marca de sapato você irá calçar...qual moda você irá seguir etc.
              - É! Vou pirar mais! A vida dessas pessoas precisa de uma bagunça de vez em quando! Colocar as coisas de cabeça para baixo, sabe? Trazer um pouco de caos a esta cidade!
                  - Trazer caos ao Rio de Janeiro? Chegou atrasado! HAHAHA!
                 Os dois riram e se despediram. No caminho para casa Leonardo tropeçou e bateu a cabeça no meio fio e morreu. Só para não dizer que esta história acabou de repente, eu digo a vocês que no dia seguinte à morte de Leonardo, fez sol.

Fim



[1] Convenhamos, só por que você pode escolher que cor de camisa você irá usar no trabalho não significa que você é diferente do Mané que usa um uniforme. No final você está restrito a uma combinação de calça jeans, sapato e camisa social.  Aí você diz “Você pode colocar uma calça de pano ué”. Óbvio que eu posso porra, só que botar uma calça de pano, social e bonita dá trabalho, e ter mais trabalho além do que você é obrigado a fazer, cá entre nós é burrice ou vaidade. E vaidade, como todos sabem, é um pecado capital (segundo o Wikipédia o pior haha).
[2] Simbolismo nada sutil.


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5 comentários:

  1. Muito orgulhosa desse autor. Meu. Te amo! bjus

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  2. Sardaaa parabéns pelo texto!! Queremos mais!!!!!

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    1. Teremos mais textos de Bernardo Sardinha toda quinta!
      Confira!

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  3. Gostei do seu texto, Sardinha! Ágil, irreverente. Gostei!

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  4. Se Leonardo teve esse papo com Deus e tinha intimidade com Ele e cria Nele.... Leonardo viveu e viverá eternamente.
    A vida é isso, oração é assim, um papo franco com Deus.
    Gostei do texto.
    Apesar de mais um ter morrido. Rsrsrs
    Vamos celebrar a vida??

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