Por Bernardo Sardinha
Nossa incrível história começa na pacata cidade de
Guapimirim, onde Leonardo foi passar um feriadão com seus amigos. Seriam três
dias de muita cerveja, churrasco, conversas para o ar e drogas leves. À noite o jovem Leonardo se afastou de seus
amigos para dar uma esvaziada na bexiga, afinal, estavam tentando quebrar algum
recorde, não importa qual, só importa é que este recorde envolvia litros e
litros de cerveja. Sabe como é. Coisa de gente chapada e idiota (a ordem dos
fatores não altera o resultado).
No momento da mijada orgástica, um meteoro
caiu ao lado de Leonardo. Na hora Leo só pôde gritar “Puta que pariu!” e foi
arremessado muitos metros para trás ainda com o pau na mão. “Puta que pariu
puta que pariu puta que pariu....” ficou falando enquanto guardava às pressas
seu bilau dentro da calça. Ao se aproximar do local do impacto, viu que, do
meteoro não restara nada, mas havia algo de estranho no ar. Uma certa
eletricidade percorria o ambiente. Como todo bom bêbado que está chapado e com
sono, Leo ignorou tudo aquilo e foi dormir.
No dia seguinte Leo (de ressaca) arrumou suas malas e
partiu para o Rio de Janeiro, para uma semana chata e terrível de trabalho
burocrático e infeliz. Usando seu uniforme[1],
sentou em sua mesa, a qual estava completamente organizada. Aos poucos foram
chegando seus colegas de trabalho todos muito cordiais dando "Bom
dias" e "ois" e sentando em suas respectivas baias, começaram o
trabalho daquela semana.Visitados todos os sites
legais e com todos os emails
interessantes lidos, só restava para Leonardo fazer seu trabalho, por mais burocrático
e lento que fosse. Ele esfregou os olhos, estalou os dedos e colocou as mãos
sobre o teclado.
Ele estava triste mas não sabia dizer por quê.
De repente, aquela sensação de que o ar estava carregado de eletricidade
voltou. Leonardo sentiu ela percorrer seu corpo e arrepiar os pêlos da nuca.
Aquilo tomou conta dele, era uma força incontrolável. Era uma mistura de vontade
de gritar, de rir e de enlouquecer de vez. Mas para o bem da nação ele se
controlou.
Silêncio. Seus colegas de trabalho estavam a
batucar o trabalho em seus teclados de plástico, voltados com sua total
concentração para a tela do computador. Olhou para o relógio e ainda faltavam
sete horas e quarenta e cinco minutos para terminar o expediente. Olhou para a janela
e seus olhos se apertaram por causa da claridade. Viu um pássaro voar e sorriu[2].
Antes
de digitar o primeiro número naquela planilha de Excel, apareceu Cintia:
- "Oi
Lêo! Trouxe algo para você!" - e com um sorriso mais falso do que uma nota
de três reais ela colocou um souvenir
na mesa de Leonardo. Era um tucano talhado toscamente na madeira com uma
bandeirinha de :"Bem-Vindo ao Pantanal".
- "Obrigado!" - disse Leonardo para
em seguida pegar o bichinho e jogar no lixo na frente dela. Cintia ficou
boquiaberta e Leonardo começou a rir de nervoso. Havia eletricidade no ar.
Dali
em diante a tarde foi muito mais divertida. Começou com um barraco, com Cintia
chamando Leonardo de grosso e logo outras pessoas se meteram, surgiram opiniões
e muita gente disse coisas que estavam entaladas na garganta. Tiraram todos os
esqueletos do armário, reviraram o passado e lavaram a roupa suja. Leonardo
sabia que o que tinha feito era errado. Mas foi simplesmente divertido ver o
circo pegar fogo. No final do expediente desceu de elevador com um colega:
-
Que dia! Hoje vou ter muito assunto para contar na janta! - disse o colega
rindo.
Leonardo sorriu.
Era
noite, e Leonardo ainda estava voltando do trabalho, e decidiu dar uma volta na
praia de Ipanema que estava deserta. Parou em frente ao mar e tirou os sapatos.
-
Caramba...o mar.
Nesse
instante, Deus sai de trás de uma nuvem e olha Leonardo.
- Olá – disse Leonardo.
- E aí... - respondeu entre as nuvens.
- Pô, to gostando desse troço cara! Tô me
sentindo livre como ninguém. E não tô falando dessa liberdade que vendem por
aí...
- Ah sei... Liberdade de escolher a sua operadora de celular, liberdade
de escolher que marca de sapato você irá calçar...qual moda você irá seguir
etc.
- É! Vou pirar mais! A vida
dessas pessoas precisa de uma bagunça de vez em quando! Colocar as coisas de cabeça
para baixo, sabe? Trazer um pouco de caos a esta cidade!
- Trazer caos ao Rio de Janeiro? Chegou atrasado! HAHAHA!
Os dois riram e se despediram.
No caminho para casa Leonardo tropeçou e bateu a cabeça no meio fio e morreu.
Só para não dizer que esta história acabou de repente, eu digo a vocês que no
dia seguinte à morte de Leonardo, fez sol.
Fim
[1] Convenhamos,
só por que você pode escolher que cor de camisa você irá usar no trabalho não
significa que você é diferente do Mané que usa um uniforme. No final você está
restrito a uma combinação de calça jeans, sapato e camisa social. Aí você diz “Você pode colocar uma calça de
pano ué”. Óbvio que eu posso porra, só que botar uma calça de pano, social e
bonita dá trabalho, e ter mais trabalho além do que você é obrigado a fazer, cá
entre nós é burrice ou vaidade. E vaidade, como todos sabem, é um pecado
capital (segundo o Wikipédia o pior haha).
[2]
Simbolismo nada sutil.
Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
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Muito orgulhosa desse autor. Meu. Te amo! bjus
ResponderExcluirSardaaa parabéns pelo texto!! Queremos mais!!!!!
ResponderExcluirTeremos mais textos de Bernardo Sardinha toda quinta!
ExcluirConfira!
Gostei do seu texto, Sardinha! Ágil, irreverente. Gostei!
ResponderExcluirSe Leonardo teve esse papo com Deus e tinha intimidade com Ele e cria Nele.... Leonardo viveu e viverá eternamente.
ResponderExcluirA vida é isso, oração é assim, um papo franco com Deus.
Gostei do texto.
Apesar de mais um ter morrido. Rsrsrs
Vamos celebrar a vida??