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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Lady Murphy

Por Marcela de Hollanda

        Acordou um pouco atrasada. Um pouco, normalmente, eram dez minutos, mas, nesse dia, foram cento e oitenta minutos. Como ela pôde dormir três horas a mais do que o planejado no dia do seu casamento? Engoliu um pão tão rapidamente que só percebeu que estava mofado na última mordida. Ela tinha que ir buscar uma tia no aeroporto que ficava do outro lado da cidade. Por que ela, sendo a noiva, ia pessoalmente buscar a tia e não passar um dia num spa cuidando da beleza? Essa tia nunca aceitaria uma desfeita dessas. E ela tinha o péssimo hábito de não querer desagradar ninguém.  Principalmente membros da família. 
         Faltavam quinze minutos para a hora programada para o voo chegar. Colocou uma roupa qualquer e saiu sem nem escovar os dentes. A caminho do aeroporto, passou do limite de velocidade tantas vezes e ultrapassou tantos sinais vermelhos que só pensava que as multas sairiam mais caro do que a festa de casamento. Isso se ela chegasse viva até lá. Conseguiu chegar em meia hora. Era o tempo da tia ter pego as malas e ir encontrá-la. Mas não. Com a correria ela não tinha verificado. O voo estava atrasado e não tinha previsão para chegar. Como ela podia ficar esperando? Tinha um milhão de coisas para resolver. Precisava ir embora imediatamente. Mas não foi. Pensou que a tia ficaria magoadíssima. Tudo que restava era tentar resolver umas coisas pelo celular. Isso se ela tivesse lembrado de tirar do carregador e colocar na bolsa. Esperou, impacientemente, por duas horas. O voo chegou.Mas a tia não. 
           Ligou a cobrar de um orelhão do aeroporto para saber o que estava acontecendo. A tia atendeu com uma voz perfeitamente normal e disse que tinha desistido de viajar porque estava com uma indisposição terrível. Tão ruim que se esqueceu de ligar. E indisposição por acaso é algum tipo de doença terminal? Foi o que ela quis berrar ao telefone. Mas disse que era uma pena e que compreendia completamente. Estava tão arrasada que nem dirigiu correndo na volta. Tinha perdido a hora das unhas, da maquiagem, do cabelo, massagem. Paciência. O noivo teria que amá-la do jeito que era. Foi para casa, tomou um banho bem demorado e se vestiu.
          Vestida para casar, se olhou no espelho pela primeira vez no dia. Misteriosamente, uma sobrancelha estava muito maior que a outra. O formato das duas estava totalmente diferente. Correu para pegar uma pinça e começou a tentar resolver o problema. Ela não era muito habilidosa. Foi tirando, tirando, tirando, até que tinha tirado demais. Era a vez de tirar da outra e deixar tudo igual. Mas acabou passando do ponto e quando parou de insistir na sucessão de erros já era tarde demais. Não tinha sobrado quase nada. As lágrimas que rolaram não ajudaram em nada a melhorar sua nova aparência extraterrestre. Enxugou uma a uma, assoou o nariz vermelho e resolveu encarar a sociedade.Dessa vez, era inevitável. Ia desagradar a família inteirinha. Pelo menos na entrada da igreja tinha o véu para cobrir o rosto. 
      Entrou sozinha. O véu cobriu não só o estrago na sobrancelha, mas também o rosado envergonhado das bochechas quando levou um tombo no caminho. O noivo nem foi lá ajudá-la a se levantar. Quando levantou o véu, pode apalpar a decepção na expressão dele. E na hora do sim, ouviu um não. Desmaiou. Acordou com o despertador. Graças a Deus não estava atrasada. Era o dia do seu casamento e ela tinha muito o que fazer. Se olhou no espelho e uma sobrancelha estava muito maior do que a outra. Desmaiou.



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4 comentários:

  1. Marcelusca! Seu dia vai ser lindo. Parabéns pelo texto. = P
    beijos

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  2. HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
    GENIAL!
    Ainda bem que ninguém sofre por antecipação desse jeito.
    Coitadinha da personagem, meu deus.

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  3. Curti bastante seu texo... apesar de surreal ele é bem real! heheh

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