Cada dia da nossa vida é de um jeito. Sem regras ou com regras.
De qualquer forma, nada é igual.
Aqui cada dia é dia de um texto diferente.
Quer sair da rotina? Fica com o Salada!

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Para cada arroubo de felicidade, a balança.

Por  Rec Haddock


Imediatamente me lembrei de todas as dívidas que tinha com aquele homem. Tudo o que não soube como pagar, quando pude. Agora tudo ficará ainda mais difícil.
Para um cara tímido, era bom não precisar falar para ser compreendido. Para quem via de longe, ele era um cara que falava muito, mas para mim, ele sempre foi um ótimo ouvinte.
Quando soube, a princípio, as lágrimas não vieram. Veio à descrença pela impossibilidade daquela notícia aterradora. Um homem tão jovem em espírito. Jogando basquete como um garoto. Um mal súbito em um coração que os poetas teimam em ignorar. Não o coração metafórico. Mas, o músculo que bombeia, entope e descompassa.
Se a vida fosse mais poesia e menos dor, a vida teria o nome dele. Mas, o destino por vezes é daltônico, e não entende que o vazio que ele deixa em cor escurece o mundo, e deixa a vida mais cinza.
É incrível o quanto a ausência definitiva de alguém tão ausente no nosso cotidiano pode ser tão arrasadora.
Depois as lágrimas vieram. E depois vieram de novo. Sempre com um doce sabor de carinho. Acho que elas não vão deixar de vir tão cedo, sempre que eu lembrar dele. Mas não importa o quanto eu derrame lágrimas, nunca terei chorado o bastante.
Um luto escondido em mim.

A vida que segue, porque tem que seguir.



Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Rec Haddock e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

domingo, 29 de setembro de 2013

Buscador de Verdades

Por: Danilo Marcks


  O que buscamos o tempo todo? Tá todo mundo buscando alguma coisa. Todo dia, toda hora e todo minuto. Todo momento, há que buscar algo. Já buscou isso? Já buscou aquilo? Já buscou no Google? O que se busca?
 É tanta coisa, tantas respostas possíveis e às vezes impossíveis, que nos fazem cansar. Seria tão mais fácil responder: Eu não busco nada. Nada? Não, nada. Eu não busco um trabalho novo. Eu não busco uma maionese zero caloria. Eu não busco um chocolate com um novo gosto incrível. Eu não busco alguém. Eu não busco um novo amor. Eu não busco nada. Nada, na verdade. Quer dizer, na verdade, eu busco. Eu busco verdade. Apenas verdade. Começando por isso já está de bom tamanho. Verdade? É, verdade, assim, bem verdadeira, àquela que não pode ser diferente. Só existe ela.
   Mas há apenas uma verdade ou versões de uma mesma verdade? Talvez versões, talvez imaginações. Mas no meu caso, não importa. Não importa se eu busco uma verdade. Foco nela, acredito nela, ando com ela e vou com ela. As versões ficam insignificantes, pra mim, dentro do buscador, só a verdade importa. Dentro dele, a verdade nos liberta.



Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Danilo Marcks e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

Televisão fora do ar

Por Halliny Lima


Chega!!!
A minha vida deve ser muito interessante!
Eu já nem preciso cuidar dela;
Você cuida.
Ele comenta
Ela sugere 
A outra discute
O outro desrespeita 
Eles arquitetam
Aqueles imaginam 
E eu assisto
Aliás, assistia...
Se liga
Olha pro seu umbigo
Eu não ligo
E cuida da sua vida!!


Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Halliny Lima e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

sábado, 28 de setembro de 2013

A TERRA ORIGINAL

Por: Rodrigo Amém

Demorou, mas cheguei a uma dolorosa conclusão. Aliás, demorou demais, uma vez que tal conclusão era, pelo menos, óbvia. Mas tem essas coisas que a gente teima em fingir que não sabe, que não vê. Tipo marido traído, entende? O Monstro do Lago Ness, por exemplo, obviamente não existe. Mas a gente torce para que exista. Eldorados, meu velho, Eldorados.

Coisas que, por mais que a gente queira, não passam de auto-sugestão. Forçamos a barra para crer no que não existe. Torcedores do Fluminense, homens casados e drag queens sabem do que eu estou falando. Ruminação de mentiras. Aqueles que têm o vício da escrita trazem, dentro de si, uma busca quixotesca: o texto original.

Haveria, em algum lugar dentro da mente, além de mares nunca dantes navegados, uma ilha distante de todo e qualquer clichê? Jamais pisada por autor algum? Uma ideia verdadeiramente nova? Para obter a resposta, navegar é preciso. Homens ao mar, corações ao alto, velas ao vento. A procura pela originalidade leva muitos homens à frustração, à loucura. Alguns usam álcool, nicotina, chocolate e outros entorpecentes. Teve até quem ateasse fogo em uma cidade inteira só para receber a visita da musa, da inspiração.

Aliás, grossa mentira. Não existe, nem nunca existiu essa bela mulher, formosa como Vênus, vinda do nada, soprando a genialidade no ouvido do artista. Uma mulher que se disponha a passar sua vida cochichando ao ouvido de um artista, falaria coisas como: "Isso são horas, seu vagabundo?" ou "Bêbado de novo? Vai dormir no sofá da sala!" e ainda "Quando é que você vai arranjar um emprego decente? Bem que mamãe me avisou que você nunca ia dar em nada!". Não, nada de musas inspiradoras.

De qualquer forma, descobri o ovo de Colombo recentemente. Estava, como sempre, revirando memórias e entranhas, navegando rumo ao novo mundo, neste universo retilíneo e plano chamado imaginação. Sem brisa, sol a pino, não me movera um centímetro. Minha mente já ardia com a febre-da-cabine e meu hálito cheirava a escorbuto.  Não desistiria, mas sabia que minhas tentativas eram inúteis e meu navio fazia água.

Será que todos os bons textos do mundo já foram escritos? Nada mais sobrou para ser explorado? Num mundo onde informação dá em árvores, teria o homem dito tudo o que havia para dizer? Talvez tenha chegado a hora de parar. Fim da linha.  Ponto final. E eu resolvi, como todo bom capitão, afundar com o navio.

Quando o mar da mediocridade já me ladeava pelo pescoço, um rato passou por mim, à altura de meus olhos, remando um pequeno barquinho salva-vidas. Ele me olhou como quem lê Maiakovsky. Balançando a cabeça negativamente, cofiou seu cavanhaque grisalho e suspirou. Agarrou novamente os remos e colocou-se a remar.

Não sei bem porque, gritei um "espere" para o rato. Ele parou e me olhou desinteressado.

- Bem... Quero dizer... Não sabia que ratos remavam... - falei, desconcertado.

- Se você naufraga sem sequer descobrir para onde ia, não entender de ratos não me surpreende. - Disse o rato. - Vou escrever sobre isso um dia.

- Você é escritor? - Espantei-me.

- Assim como você, a não ser pelo fato de fazer sucesso, ganhar dinheiro e estar na 80ª edição de minha biografia. - Respondeu o roedor.

- Como é possível? Você sabe onde fica a terra prometida? Onde fica o Nirvana que eu tanto procuro?

- Sim, sei.

- Então diga-me, por favor!

- Você não gostaria de ir até lá. É inóspito, povoado por pensamentos hostis e agressivos. Dizem que a Solidão e a Inveja moram nesta terra, e os poucos que a conheceram jamais foram os mesmos. Seus leitores os abandonaram. Suas famílias e amigos também. A Terra Original é maldita.

- Você está blefando! - Irritei-me, esforçando-me para manter minha boca acima do nível da água.

- O leitor não quer o Original. O homem teme o novo à aversão. Quer conquistá-los? Fale sobre o que eles conhecem, converse sobre a dor que eles sentem, faça-os sonhar com as mesmas belas e desbotadas frases de amor.  Quer parecer original? Mude a ambientação.  Futuro, passado, presente. Ficção ou romance. Tanto faz. O importante é você contar sempre a mesma história. A biografia do leitor, com o final que ele gostaria de viver.


Ao dizer isso, o rato sorriu um sorriso sacana, agarrou mais uma vez os remos e piscou para mim. Foi se afastando lentamente com seu barquinho. E eu pensei que, talvez, ele estivesse coberto de razão. Talvez, o porto do qual saí fosse o mais seguro. Talvez eu devesse recomeçar, mas aquela água turva me invadia as narinas e eu não sabia nadar.


Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Rodrigo Amém e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Me dê a mão

Por Amanda Leal                             


Pega e leva embora essa tristeza
Por favor, faça isso agora          
Me ajuda a ser mais leve que o vento                                         
A sorrir das minhas próprias palavras                                           
Pois não há dor que resista, nem sofrimento                                 
 A um bom humor                                    
Pega e leva embora essa tristeza
Por favor, faça isso agora               
Que eu encontre mais comédia nessa vida                                     
Que minhas tardes sejam movimentadas                            
Que minha aparência seja divertida                                     
Junto contigo em noites animadas                                     
Manhãs gostosas no acordar                                          
O meu amor sempre aqui ao meu lado       
Leva embora tudo que há de ruim                              
Juntos  sonhando acordados         
Eu sou sua, você é meu                 
Vamos agora olhar lá fora?          
 Só eu e você, você mais eu                  
Vem amor, vambora.                        
 Pega e leva embora essa tristeza
 Por favor, faça isso agora           
Vamos rir das coisas más             
Acreditar no que é bom         
 Pedir a Deus nossa paz                
 E rachar nosso bombom              
Se o amor não puder ser assim  
Então de nada adianta                 
Só juntos vamos nos libertar        
Mas ainda assim                            
Será difícil se viver                               
Pega e leva embora essa tristeza
 Por favor, faça isso agora              
 Me dê a mão, vamos partir           
Em direção ao infinito                   
 Com sorrisos largos e ir                
Juntos, sempre juntos                  
 Construindo um amor bonito                 
 Pega e leva embora essa tristeza
Por favor, faça isso agora             
Me beije calminho                       
Me ame pra sempre                     
Pois ninguém consegue amar sozinho                                     
Ou se ama, o outro não sabe nem sente.


Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Amanda Leal e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O incrível fim de um dia

Por Bernardo Sardinha

                       

                   Nossa incrível história começa na pacata cidade de Guapimirim, onde Leonardo foi passar um feriadão com seus amigos. Seriam três dias de muita cerveja, churrasco, conversas para o ar e drogas leves.  À noite o jovem Leonardo se afastou de seus amigos para dar uma esvaziada na bexiga, afinal, estavam tentando quebrar algum recorde, não importa qual, só importa é que este recorde envolvia litros e litros de cerveja. Sabe como é. Coisa de gente chapada e idiota (a ordem dos fatores não altera o resultado). 
      
                  No momento da mijada orgástica, um meteoro caiu ao lado de Leonardo. Na hora Leo só pôde gritar “Puta que pariu!” e foi arremessado muitos metros para trás ainda com o pau na mão. “Puta que pariu puta que pariu puta que pariu....” ficou falando enquanto guardava às pressas seu bilau dentro da calça. Ao se aproximar do local do impacto, viu que, do meteoro não restara nada, mas havia algo de estranho no ar. Uma certa eletricidade percorria o ambiente. Como todo bom bêbado que está chapado e com sono, Leo ignorou tudo aquilo e foi dormir.
                 No dia seguinte Leo (de ressaca) arrumou suas malas e partiu para o Rio de Janeiro, para uma semana chata e terrível de trabalho burocrático e infeliz. Usando seu uniforme[1], sentou em sua mesa, a qual estava completamente organizada. Aos poucos foram chegando seus colegas de trabalho todos muito cordiais dando "Bom dias" e "ois" e sentando em suas respectivas baias, começaram o trabalho daquela semana.Visitados todos os sites legais e com todos os emails interessantes lidos, só restava para Leonardo fazer seu trabalho, por mais burocrático e lento que fosse. Ele esfregou os olhos, estalou os dedos e colocou as mãos sobre o teclado.
                     Ele estava triste mas não sabia dizer por quê. De repente, aquela sensação de que o ar estava carregado de eletricidade voltou. Leonardo sentiu ela percorrer seu corpo e arrepiar os pêlos da nuca. Aquilo tomou conta dele, era uma força incontrolável. Era uma mistura de vontade de gritar, de rir e de enlouquecer de vez. Mas para o bem da nação ele se controlou.
                    Silêncio. Seus colegas de trabalho estavam a batucar o trabalho em seus teclados de plástico, voltados com sua total concentração para a tela do computador. Olhou para o relógio e ainda faltavam sete horas e quarenta e cinco minutos para terminar o expediente. Olhou para a janela e seus olhos se apertaram por causa da claridade. Viu um pássaro voar e sorriu[2].
                     Antes de digitar o primeiro número naquela planilha de Excel, apareceu Cintia:
                    - "Oi Lêo! Trouxe algo para você!" - e com um sorriso mais falso do que uma nota de três reais ela colocou um souvenir na mesa de Leonardo. Era um tucano talhado toscamente na madeira com uma bandeirinha de :"Bem-Vindo ao Pantanal".
                   - "Obrigado!" - disse Leonardo para em seguida pegar o bichinho e jogar no lixo na frente dela. Cintia ficou boquiaberta e Leonardo começou a rir de nervoso. Havia eletricidade no ar.
                   Dali em diante a tarde foi muito mais divertida. Começou com um barraco, com Cintia chamando Leonardo de grosso e logo outras pessoas se meteram, surgiram opiniões e muita gente disse coisas que estavam entaladas na garganta. Tiraram todos os esqueletos do armário, reviraram o passado e lavaram a roupa suja. Leonardo sabia que o que tinha feito era errado. Mas foi simplesmente divertido ver o circo pegar fogo. No final do expediente desceu de elevador com um colega:
                   - Que dia! Hoje vou ter muito assunto para contar na janta! - disse o colega rindo.
                    Leonardo sorriu.
                  Era noite, e Leonardo ainda estava voltando do trabalho, e decidiu dar uma volta na praia de Ipanema que estava deserta. Parou em frente ao mar e tirou os sapatos.
                  - Caramba...o mar.
                  Nesse instante, Deus sai de trás de uma nuvem e olha Leonardo.
                   - Olá – disse Leonardo.
                   - E aí... - respondeu entre as nuvens.
                  - Pô, to gostando desse troço cara! Tô me sentindo livre como ninguém. E não tô falando dessa liberdade que vendem por aí...
                 - Ah sei... Liberdade de escolher a sua operadora de celular, liberdade de escolher que marca de sapato você irá calçar...qual moda você irá seguir etc.
              - É! Vou pirar mais! A vida dessas pessoas precisa de uma bagunça de vez em quando! Colocar as coisas de cabeça para baixo, sabe? Trazer um pouco de caos a esta cidade!
                  - Trazer caos ao Rio de Janeiro? Chegou atrasado! HAHAHA!
                 Os dois riram e se despediram. No caminho para casa Leonardo tropeçou e bateu a cabeça no meio fio e morreu. Só para não dizer que esta história acabou de repente, eu digo a vocês que no dia seguinte à morte de Leonardo, fez sol.

Fim



[1] Convenhamos, só por que você pode escolher que cor de camisa você irá usar no trabalho não significa que você é diferente do Mané que usa um uniforme. No final você está restrito a uma combinação de calça jeans, sapato e camisa social.  Aí você diz “Você pode colocar uma calça de pano ué”. Óbvio que eu posso porra, só que botar uma calça de pano, social e bonita dá trabalho, e ter mais trabalho além do que você é obrigado a fazer, cá entre nós é burrice ou vaidade. E vaidade, como todos sabem, é um pecado capital (segundo o Wikipédia o pior haha).
[2] Simbolismo nada sutil.


Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Bernardo Sardinha e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Lady Murphy

Por Marcela de Hollanda

        Acordou um pouco atrasada. Um pouco, normalmente, eram dez minutos, mas, nesse dia, foram cento e oitenta minutos. Como ela pôde dormir três horas a mais do que o planejado no dia do seu casamento? Engoliu um pão tão rapidamente que só percebeu que estava mofado na última mordida. Ela tinha que ir buscar uma tia no aeroporto que ficava do outro lado da cidade. Por que ela, sendo a noiva, ia pessoalmente buscar a tia e não passar um dia num spa cuidando da beleza? Essa tia nunca aceitaria uma desfeita dessas. E ela tinha o péssimo hábito de não querer desagradar ninguém.  Principalmente membros da família. 
         Faltavam quinze minutos para a hora programada para o voo chegar. Colocou uma roupa qualquer e saiu sem nem escovar os dentes. A caminho do aeroporto, passou do limite de velocidade tantas vezes e ultrapassou tantos sinais vermelhos que só pensava que as multas sairiam mais caro do que a festa de casamento. Isso se ela chegasse viva até lá. Conseguiu chegar em meia hora. Era o tempo da tia ter pego as malas e ir encontrá-la. Mas não. Com a correria ela não tinha verificado. O voo estava atrasado e não tinha previsão para chegar. Como ela podia ficar esperando? Tinha um milhão de coisas para resolver. Precisava ir embora imediatamente. Mas não foi. Pensou que a tia ficaria magoadíssima. Tudo que restava era tentar resolver umas coisas pelo celular. Isso se ela tivesse lembrado de tirar do carregador e colocar na bolsa. Esperou, impacientemente, por duas horas. O voo chegou.Mas a tia não. 
           Ligou a cobrar de um orelhão do aeroporto para saber o que estava acontecendo. A tia atendeu com uma voz perfeitamente normal e disse que tinha desistido de viajar porque estava com uma indisposição terrível. Tão ruim que se esqueceu de ligar. E indisposição por acaso é algum tipo de doença terminal? Foi o que ela quis berrar ao telefone. Mas disse que era uma pena e que compreendia completamente. Estava tão arrasada que nem dirigiu correndo na volta. Tinha perdido a hora das unhas, da maquiagem, do cabelo, massagem. Paciência. O noivo teria que amá-la do jeito que era. Foi para casa, tomou um banho bem demorado e se vestiu.
          Vestida para casar, se olhou no espelho pela primeira vez no dia. Misteriosamente, uma sobrancelha estava muito maior que a outra. O formato das duas estava totalmente diferente. Correu para pegar uma pinça e começou a tentar resolver o problema. Ela não era muito habilidosa. Foi tirando, tirando, tirando, até que tinha tirado demais. Era a vez de tirar da outra e deixar tudo igual. Mas acabou passando do ponto e quando parou de insistir na sucessão de erros já era tarde demais. Não tinha sobrado quase nada. As lágrimas que rolaram não ajudaram em nada a melhorar sua nova aparência extraterrestre. Enxugou uma a uma, assoou o nariz vermelho e resolveu encarar a sociedade.Dessa vez, era inevitável. Ia desagradar a família inteirinha. Pelo menos na entrada da igreja tinha o véu para cobrir o rosto. 
      Entrou sozinha. O véu cobriu não só o estrago na sobrancelha, mas também o rosado envergonhado das bochechas quando levou um tombo no caminho. O noivo nem foi lá ajudá-la a se levantar. Quando levantou o véu, pode apalpar a decepção na expressão dele. E na hora do sim, ouviu um não. Desmaiou. Acordou com o despertador. Graças a Deus não estava atrasada. Era o dia do seu casamento e ela tinha muito o que fazer. Se olhou no espelho e uma sobrancelha estava muito maior do que a outra. Desmaiou.



Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Marcela de Hollanda e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização da autora. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pretérito Imperfeito

Por  Rec Haddock



O verbo amar não deveria ter pretérito.
Porque o amor é intransitivo constitucional.
Ama quem ama! O resto? Passado.
E recente ou distante, que importa?
É só mais uma matéria de jornal.




Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Rec Haddock e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores. 

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Caminhos nos Jardins

Por Danilo Marcks


Não sei se sou o bem
Se já fiz o mal ou se penso em meu bem
Se tudo ao acordar é passageiro
O que nos faz mudar?
O que nos mata?
O que nos salva?
O que nos agrada?
Vem distrair...
Nada é apenas por querer
Quantas escadas eu ainda tenho que juntar?
Como passo o passar dos anos e tentar enxergar?
Me deixar levar...
Só sei escalar paredes azuis e rosas
Não entendo seu idioma
Seu cheiro me impressiona
E o que nos ama?
Não sei muito bem porque estou aqui neste lugar
Nem penso em descobrir, tento reagir e deixar levar
Às vezes quero, apagar a mente toda
Ao caminhar, ela pensa em tudo
Ao se deitar, não me deixa mudo
E ao sonhar, me deixa mais confuso
E eu que não durmo profundo
Sinto essa profundidade toda
De quase saudade
Daquilo que nos faz falta
Daquilo que nos incomoda
Daquilo que nos maltrata
Que nos apaga
Eu não entendo bem Francês
E também não sei se sei pra onde vou chegar
Eu quero é apenas entender o porquê , de você me abandonar

*Frases que me vieram hoje durante, uma caminhada de 30 minutos até a academia, reparto com vocês

Gostou do que leu? Esse texto é de autoria de Danilo Marcks e sua reprodução total ou parcial dependem de prévia autorização do autor. Entre em contato conosco para maiores informações.
Os comentários postados abaixo são abertos ao público e não expressam a opinião do blog e de seus autores.