Por Rodrigo Amém
A babá fez o melhor que pôde para suturar o pé de Edgard, um mindinho a menos. Mas faltou anestésico, faltou gaze, faltou hospital. E toda vez que ele precisava pisar no freio, a dor latejante gerava movimentos bruscos do automóvel. A mandíbula de Edgard ardia de tanto ranger dentes. A freada acordou Sarah.
A menina tentou se sentar no banco traseiro. As mãos amarradas nas costas tornaram a tarefa ligeiramente mais difícil. O saco de estopa que cobria sua cabeça pinicava seu rosto e suas orelhas. Somente as luzes difusas dos carros penetravam sua cegueira improvisada.
Pelo retrovisor, Edgard percebeu que a sua refém estava consciente.
- Fica deitada. – disse ele, num tom seco.
Sarah reconheceu aquela voz. Era o homem que, dois dias atrás, tinha entrado no seu cativeiro com um facão, tirado o sapato e cortado o próprio dedo fora. Sarah gritou diante daquele horror todo, aquele sangue todo. Mas depois ela entendeu que o homem tinha feito aquilo para poupá-la. Então Sarah ficou ainda mais confusa.
Por que alguém – principalmente um bandido, um homem mau – faria isso? Por que cortar o próprio dedo para não ferir uma vítima. A menos que fosse a única alternativa. A menos que ele precisasse sair daquele quarto com um dedo decepado, caso contrário alguém menos piedoso viria fazer o serviço. A menos que esse bandido não fosse um homem tão mau assim. Sarah sentiu-se ligeiramente mais segura na presença daquela voz.
- Pra onde a gente está indo?
- Seu pai pagou. Você vai pra casa. Abaixa.
- Obrigada, moço.
- Fica abaixada. Não vou dizer de novo.
Sarah deitou no banco. Um celular tocou.
- Fala. – Atendeu Edgard.
- Ele chegou. – disse a voz do outro lado.
- Tá tudo tranquilo?
- Tudo. Não tem truque, não. Pode vir. – respondeu Léo.
Edgard desligou e acelerou, rangendo os dentes.
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