Por Marcela de Holanda
— Eu vou querer esse camarão e uma salada da casa. Você já sabe o que vai pedir?
— Sei.
— Então, chama o garçom, por favor.
— Ainda não.
— Por que não? Eu não comi nada o dia inteiro.
— Eu chamo já. Mas meu pedido não é para ele. É para você.
— Para mim? O que é?
— Eu quero que você me ajude a vender meu apartamento.
— Vai vender? Mas ele é tão bom. Você adora aquele lugar.
— Eu sei. Mas ele não me serve mais e eu vou precisar da grana.
— Bom, te ajudo, claro.
— Não vai me perguntar porque ele não me serve mais?
— Se você quiser me dizer.
— Eu vou me mudar.
— Espero que sim. Se você vender e continuar lá a gente vai ter um problema.
— Gracinha. Eu quis dizer do país.
— O que? Por que? Quando?
— Assim que eu conseguir resolver as coisas por aqui. Mas no máximo em três meses. Me ofereceram uma vaga na filial de Barcelona.
— Uau. Que máximo, Igor. Parabéns.
— Obrigado. Acho que pode ser uma boa oportunidade.
— Ah, com certeza. E quem sabe assim você consegue esquecer a Mariana de vez.
— Eu já esqueci, Carol.
— Se você diz... Vou sentir saudades de você. Mas quem sabe eu não vá te visitar um dia? Eu sempre quis conhecer Barcelona.
— Sobre isso, eu gostaria que você me ajudasse a achar um apartamento lá.
— Você quer que eu vá até a Espanha para te ajudar a escolher um apartamento para você?
— Na verdade, não.
— Você quer que eu ajude vendo as fotos daqui?
— Também não. Eu quero que você voe até lá comigo e ache um apartamento para nós dois.
— O que?
— Eu quero que você esqueça que eu já fui um babaca de achar que era melhor a gente continuar só como amigos. E que você saiba que eu nunca fui tão feliz quanto nos meses em que nós fomos mais que isso. Eu quero que você esqueça o que eu te contei sobre as outras que vieram depois. Eu quero que você largue tudo e venha comigo. Eu quero que você confie que a gente vai dar um jeito nas coisas. Eu quero tentar de novo. Eu quero que você venha comigo para Barcelona como minha mulher. Ninguém me entende como você, ninguém me faz sorrir como você me faz, ninguém faz um brigadeiro tão gostoso quanto o seu nos dias de chuva, ninguém sabe melhor que você os filmes e as músicas que eu vou gostar, ninguém mais tem coragem de espremer os cravos das minhas costas, ninguém mais me diz a verdade não importa o quanto ela seja dura. Eu te amo, Carol. Eu tive medo de admitir porque eu não queria te perder. Porque eu sempre estrago tudo com as mulheres. Você sabe melhor que ninguém. Mas eu vou fazer o possível para não estragar dessa vez. Você embarca comigo nessa?
— Com licença, os senhores já sabem o que vão pedir?
— Sim.
— Para mim ou para ele?
— Para ele, Igor. Eu vou querer um camarão com uma salada da casa e pro cavalheiro aqui um frango à milanesa com batatas, por favor.
— Alguma coisa para beber?
— Vocês têm espumante?
— Temos, sim, senhora.
— Uma garrafa, por favor.
— Espumante? Então, é uma comemoração. Você aceita o meu pedido?
— Você disse que te deram três meses. Eu te dou dois meses para me fazer feliz a ponto de largar tudo. Pode começar.
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